Os alcaloides eritrínicos (+)- eritravina e (+)-11 -a-hidroxieritravina: efeitos antiepiléptico, neuroprotetor e na preservação da memória/cognição em animais submetidos ao modelo de pilocarpina
Abstract
A Epilepsia do Lobo Temporal (ELT) corresponde a 40% do diagnóstico médico das diferentes formas de epilepsia e se distingue como aquela na qual o tratamento convencional repercute em maior taxa de ineficácia. Não obstante, os efeitos colaterais severos provocados pelos fármacos utilizados no tratamento da ELT acarretam aos pacientes a impossibilidade parcial ou total para as atividades sociais comuns ou de trabalho. Inflorescências da planta Erythrina verna utilizada de modo caseiro e em preparações fitoterápicas industriais possuem propriedades sedativas, hipnóticas, analgésicas, anticonvulsivantes e ansiolíticas. Tais atividades têm sido atribuídas ao conjunto de alcaloides eritrínicos exibidos pela planta. Destes, se destacam a (+)-eritravina e a (+)-11α-hidroxieritravina, ambos com atividade anticonvulsivante e ansiolítica. Muito embora a atividade anticonvulsivante dos referidos alcaloides tenha sido bastante estudada em modelos agudos de convulsão, pouco se sabe sobre suas ações em modelos que mimetizem a epilepsia de fato, tão bem como sobre seus prováveis efeitos neuroprotetores, na memória/cognição e ainda acerca de seus mecanismos de ação. Com efeito, o objetivo deste trabalho foi o de avaliar a atividade anticonvulsivante/antiepiléptica, o efeito na memória/aprendizado e o potencial efeito citoprotetor/neuroprotetor dos alcaloides de interesse por meio do modelo de pilocarpina, além de investigar a potencial ação destes alcaloides em diferentes isoformas de canais de sódio e potássio e de receptores colinérgicos nicotínicos através de estudos de eletrofisiologia (voltage-clamp). Os resultados obtidos mostraram que os alcaloides apresentam marcado efeito anticonvulsivante/antiepiléptico, uma vez que reduzem significativamente a incidência, a amplitude e a duração das crises generalizadas no modelo de pilocarpina via monitoramento vídeo-eletroencefalográfico. Os referidos alcaloides também apresentam efeito positivo e progressivo no desempenho de memória/cognição dos animais submetidos ao teste do Labirinto Aquático de Morris. Por meio de técnicas de histologia e de imunohistoquímica foi possível demonstrar que os alcaloides protegem neurônios contra a morte e evitam a gliose reativa nas áreas hipocampais CA1, CA3 e Giro Denteado, o que pode explicar, ao menos parcialmente, o efeito anticonvulsivante/antiepiléptico observado neste trabalho e, sobretudo, os efeitos positivos destes alcaloides para memória/cognição. O mecanismo de ação anticonvulsivante/antiepiléptico dos alcaloides no plano molecular não envolve ações nos principais canais de sódio ou potássio, conforme demonstrado nos resultados de eletrofisiologia. Ao investigar eletrofisiologicamente a ação dos alcaloides em receptores colinérgico-nicotínicos, foi possível observar que, diferente da (+)-11α-hidroxieritravina, a (+)- eritravina apresenta modulação inibitória sobre diferentes isoformas destes receptores, especialmente as dos tipos α4β2 e α7. Assim e sendo os alcaloides análogos naturais, é possível concluir que pequenas alterações de radicais químicos localizados no anel eritrínico promovem grande alterações na atividade farmacológica observada para tais ativos. Finalmente, a ação da (+)-eritravina em receptores nicotínicos, pode ao menos parcialmente, explicar sua ação ansiolítica já comprovada no passado, o que junto com os demais resultados demonstra a grande valia etnofarmacológica e biotecnológica do trabalho em questão.